Tradução do Alemão: basicamente todas as crianças são difíceis, porque elas raramente fazem exatamente o que esperamos delas.
Estudando Psicopedagogia deparei-me com um desabafo parental (uma mãe) de um aluno especial (com dificuldades de aprendizado, sem deficiência física ou mental diagnosticada).
Essa mãe, em processo de dor e sofrimento, disse não se sentir plena, inteira. Eis a fala da mãe:
“...eu quero tornar-me uma pessoa inteira... Cansei de ser tudo: mãe, mulher, amante, amiga... Ser tudo e não ser nada, ser metade, não ser inteira. Eu vivo para o meu filho e se eu pudesse colocaria ele em uma escola, uma clínica... Que eu o internasse e só o pegasse só nos fins de semana, ou que eu fosse apenas visitá-lo de vez em quando. Separar dele me facilitaria ser inteira, e não apenas metade. Ele toma meu tempo, me suga. Quero viver para mim.”
Imediatamente parei de ler (chocado, escandalizado). Depois “desci do meu pedestal de juiz” e comecei a refletir.
Tentei colocar-me no lugar desta mãe. Sou “apenas” pai e, nem imagino quantas vezes tenho que multiplicar meu sentimento de pai para equipará-lo ao sentimento que suponho ser o de mãe.
Esta leitura, a da denúncia do sofrimento, pontuou algo: esses rancores aparecem e devem ser revelados, explicitados, compartilhados. Antes de ser mãe-heroína é pessoa, mulher, ser.
Por outro lado, usando minha memória emocional, perguntei-me: como eu poderia ser “inteiro” longe de um filho que precisa de minha ajuda? Afinal a razão da existência humana, até biologicamente falando, não é gerar e cuidar da “prole?” Todo o resto....tudo mesmo (até ser feliz) não fica em “segundo plano?”
Tive uma experiência recente neste sentido. Na semana atrasada ficamos 4 dias na praia; eu e minha mulher. A filha não quis viajar conosco. Ficou na casa de minha irmã, onde há uma prima da mesma idade. A nossa estada no litoral foi maravilhosa. Mas estava faltando algo. Tudo o que víamos e usufruíamos lembrava a filha: ela ia gostar disto, ela gostaria de comer aquilo...Confesso que experimentei até um sentimento de culpa, de egoísmo pelo fato de estar me divertindo tanto sem a filha.
Nesta semana que passou fomos novamente à praia e a levamos (junto com a prima). Aí sim. Apesar dela passar a maior parte do tempo longe da gente, com a prima (normal), sabíamos que ela estava ali, aproveitando tudo o que nós podíamos proporcionar. Estávamos muito mais felizes. “Inteiros”. Perturbador.
Isto aumenta a responsabilidade do Psicopedagogo. Cuidar, além do educando, da família, da escola, dos outros educadores. Este sentimentos; a mágoa, rancor, frustração, refletem-se diretamente no “objeto” que os origina: o filho, o aluno, dificultando mais ainda o trabalho de auxílio ao seu desenvolvimento.
By Vidal
(Texto desenvolvido a partir de leituras de módulos do Curso de Pós Graduação em Psicopedagogia - ESAB)